Queria contar para você que aquela ideia de juntar os primos da fotografia modernista com os da poesia concreta encontrou albergue na Casa Zalszupin.
Em todos esses anos de pesquisa, a fotografia modernista sempre me remeteu à poesia concreta. Com a mania de curador, imaginava uma e outra em uma parede que ajudasse a promover essa mistura, ao mesmo tempo óbvia e inusitada, puxando o fio de uma história. Conhecendo a casa do Jorge, era sempre sob o abrigo de seus vãos que eu acordava – paredes levemente onduladas em que a aproximação entre os processos da fotografia e da poesia se estendiam naturalmente também ao design e à arquitetura e ao que mais somasse ao que chamei de sarau das utopias modernistas brasileiras. Este sarau.
Por que sarau, eu mesmo me perguntaria. Em primeiro lugar, pela alma da casa, e depois pela circulação libertária das ideias nas articulações que vão surgindo entre uma imagem de José Yalenti e outra de Jean Manzon e o plano-piloto de Brasília, passando por Niemeyer e o Maracanã, e pela mesinha Pétala do anfitrião, Jorge Zalszupin – encontros como em uma festa.
E utópico, por quê? Lembrei-me do uruguaio Eduardo Galeano, de As palavras andantes, para quem a utopia serve para fazer caminhar – cuidado com os degraus na transição entre as salas aqui no térreo.
O modernismo vem a reboque dessa concepção mesma, de um movimento em direção a um lugar a que nunca chegaremos de verdade, sem desmerecer toda a aventura contida nessa ideia de depuração, de aperfeiçoamento, no desejo de exercitar uma identidade própria.
Em meu único rasgo de pretensão, a encorajar esta folia, recorro ao amparo intelectual do crítico de arte e ativista político Mário Pedrosa (1900-1981), para quem, no Brasil, estamos “condenados ao moderno”. Neste sarau de parede, é a reflexão o que move.